CÂNCER: AMOR AO LAR
—Divirta-se
e não se preocupe, gritou Amy quando sua mãe subiu no avião. Amy esperava poder
dirigir a casa enquanto a mãe estivesse fora, por uma semana, visitando o irmão,
e achava absurdo sua mãe ter medo de deixá-la tomando conta de tudo na casa.
Eram
as férias da primavera, assim Amy estava livre para se dedicar inteiramente ao
lar e à família, e para ela isso era tão divertido como se viajasse. Já tinha
planejado uma série de jantares elaborados para seu pai e seus dois irmãos, e
tinha prometido aos garotos fazer panquecas todas as manhãs, se eles quisessem.
Iria forrar os armários da cozinha com novo papel de prateleira, preparar uma
quantidade de pratos que pudessem ser congelados, assim a mãe não teria que ir
para a cozinha logo que chegasse em casa, e talvez até pintasse o seu quarto.
Mas, seu grande projeto sobre o qual não tinha falado nada, era fazer cortinas
novas para a sala de visitas. As velhas estavam desbotadas, e a mãe já tinha
algumas vezes falado vagamente em substituí-las.
Na
volta do aeroporto, Amy parou para comprar o tecido — uma linda cor
bronze-dourado que ia combinar com o tapete e clarear a sala. Ela queria
começar a fazê-las imediatamente, mas, como já era tarde, achou melhor começar
a preparar o jantar e esperar para começar as cortinas na manhã seguinte.
De
manhã, os garotos reclamaram pelas suas panquecas e Amy teve que preparar duas
receitas, senão ela ia ficar sem nada. Quando ela estava lavando a louça, seu
irmão mais velho avisou que estava faltando um botão na sua camisa e que sua
calça precisava ser passada. Recusou-se a seguir a sugestão de Amy para que
usasse outra coisa, por isso ela teve que cuidar das suas roupas. Mais tarde, quando
estava arrumando as camas, seu irmãozinho se queixou que não conseguia achar
sua luva de baseball porque a mamãe tinha arrumado o quarto. Amy achou-a dentro
do armário, no lugar certo.
Depois,
como era sábado, achou melhor limpar a casa antes de começar as cortinas, e mal
tinha guardado o aspirador, os rapazes chegaram pedindo o almoço. Ai, ela se
lembrou que ainda não tinha ido fazer as compras, nem mesmo tinha feito a
lista. Depois do almoço, preparou os cardápios para a semana, foi fazer compras
e voltou para casa carregada de mantimentos e muito cansada. Ela se recostou
por meia hora com uma revista e depois, tendo já passado o vestido que ia usar
nessa noite e regado as plantas de dentro de casa, achou que era muito tarde
para começar o seu grande projeto.
O
domingo estava todo preenchido com a ida à igreja, jantar de domingo para o
qual os avós tinham sido convidados, um convite à tarde para uma partida de
tênis e, assim, sendo, na segunda-feira, Amy estava ocupada lavando, passando
roupa e cozinhando de novo. Tinha prometido tomar conta das crianças do vizinho
na terça-feira, e embora conseguisse cumprir a rotina caseira, com duas
crianças pequenas no meio do caminho, ainda não conseguiu começar as cortinas.
Na quarta-feira de manhã, Amy achou melhor arrumar a desordem que se acumulou
no quarto de seu irmão menor, uma vez que ele havia ignorado seu pedido d'ele
mesmo arrumá-lo. Conseguiu também, limpar e forrar de novo os armários da
cozinha. Na quinta-feira, uma nova pilha de roupa suja já tinha se acumulado e
Amy estava no meio dessa operação, quando o super entusiasmado cachorro deles
apareceu coberto de lama na qual ele tinha rolado. Amy achou que não tinha
outra alternativa senão dar-lhe um banho, depois do qual ela estava ensopada.
Seu irmão perguntou se dois de seus amigões com quem estivera brincando. Podiam
ficar para almoçar, e Amy se viu de repente preparando milk-shakes e outros
petiscos favoritos para aqueles garotos de onze anos. Depois seu pai telefonou
para dizer que ele tinha elogiado tanto a comida que ela fazia que o seu chefe
praticamente tinha se convidado, mais a esposa, para jantar, ela se importava?
Na realidade Amy não se importava — ela tinha confiança nos seus dotes
culinários — mas claro que isso implicava em arrumar a casa e fazer o jantar,
verificar se o irmãozinho estava bem limpo e "lavado atrás das
orelhas."
Na
sexta-feira de manhã, Amy anunciou, desesperadamente, à sua família espantada,
que ela ia passar o dia todo costurando cortinas, que os garotos teriam que arrumar
suas camas e se arrumar na hora do almoço, e que nesse dia, tudo que ela ia
fazer para eles era preparar o jantar. O pai deixou a mesa do café da manhã
sorrindo, os garotos resmungando, mas quando eles voltaram para casa nessa
tarde, as cortinas novas estavam penduradas, e até os garotos elogiaram muito.
Sábado
foi dedicado à limpeza da casa para a mamãe ficar contente. Amy ficou acordada
até tarde no sábado e dormiu até mais tarde no domingo e teve que correr com
seu trabalho da casa. Depois da igreja, eles foram buscar a mamãe no aeroporto
e no caminho a mãe perguntou:
—
Bem, Amy, que tal tomar conta de uma casa?
—
Eu gosto — eu realmente gosto tanto quanto imaginei que ia gostar.
Mas,
como é que você acha tempo para fazer todas as coisas que você faz?
A
mãe riu da expressão perplexa de Amy.
—
Isso vem com a prática, meu bem. Você foi muito bem esta semana, e você será
uma ótima dona de casa, algum dia.
FIM