_ O senhor é o Dr. Jason Wilkins? perguntou-lhe.
_ Sim, senhor.
_ Lamento, doutor, mas tenho que prendê-lo e levá-lo a Washington.
Jason olhou para o ordenança com ar de desprezo, e lhe disse:
_ O senhor está equivocado, amigo.
O soldado puxou do bolso de sua farda um envelope pesado e o entregou a Jason. Este o abriu com certo temor, e leu:
"Mostre isto ao médico Jason Wilkins do regimento N.°... Prenda-o, e o traga à minha presença. --A. Lincoln."
Jason empalideceu.
_ Que está acontecendo? perguntou ao ordenança.
_ Não perguntei ao presidente, respondeu o soldado secamente. Sigamos imediatamente, por favor, doutor.
Assustado, Jason seguiu para Washington. Recapitulou todas as pequeninas contravenções que havia cometido.
Ao chegar ao destino, foi encerrado numa pensão por uma noite. No dia seguinte, às doze horas. O ordenança o levou à Casa Branca. Depois de uma hora de espera, apareceu um homem por uma das portas da audiência do presidente, e chamou:
_ Dr. Jason Wilkins!
_ Presente, respondeu Wilkins.
_ Por aqui!
E Wilkins, após segui-lo, encontrou-se em uma sala cuja porta se fechou atrás dele. Não havia na sala senão um homem: era Lincoln. Sentado diante de sua escrivaninha, fixou os escuros olhos no rosto de Wilkins - um rosto belo e jovem, apesar do tremor dos joelhos.
_ É você Jason Wilkins?
_ Sim. Excelência, respondeu o jovem médico.
_ De onde é você?
_ De High Hill, Estado de Ohio.
_ Tem parentes?
_ Somente a minha mãe é viva.
_ Sim, somente sua mãe! Bem, jovem, como está sua mãe?
_ Bem... bem... não sei, balbuciou Wilkins.
_ Não sabe! repetiu Lincoln. E por que não sabe? Está morta ou viva?
_ Não sei, disse o médico. Para dizer a verdade, faz tempo que não lhe escrevo, e creio que ela não saiba onde estou.
O Sr. Lincoln esmurrou com seus grandes punhos a escrivaninha e seus olhos dardejaram sobre Jason Wilkins.
Recebi uma carta dela. Supõe que você já morreu, e me pede que faça investigação quanto a sua sepultura. Ela não presta? É de má origem? Responda-me cavalheiro! O médico endireitou-se um pouco e disse.
_ É a melhor mulher que já viveu até agora, Excelência.
_ Não obstante, você não tem motivos para gratidão! Como conseguiu você estudar para médico? Quem lhe pagou as despesas? Seu pai?
_ Não, Excelência, respondeu Wilkins enrubescido; meu pai era pregador metodista pobre. Minha mãe conseguiu o dinheiro, embora eu trabalhasse para pagar quase todas as minhas despesas com pensão.
_ Bem, e como conseguiu ela o dinheiro?
Os lábios de Wilkins se enrijeceram.
_Vendendo seus objetos. Excelência.
_ Que objetos?
_ Principalmente coisas antigas; sem valor a não ser para os museus.
_ Pobre louco! disse Lincoln.. Os tesouros de seu lar... vendidos um após outro... para você.
De repente, o presidente levantou se e apontando com o grande indicador para a escrivaninha, disse:
_ Venha cá; sente-se e escreva uma carta a sua mãe.
Wilkins aproximou-se em obediência e sentou-se na cadeira do presidente. Tomou de uma pena e escreveu uma pequena carta a sua mãe.
Coloque-lhe endereço e me a dê, disse-lhe o presidente; e acrescentou, levantando um pouco a voz:
_ E agora Wilkins, enquanto estiver no exército, escreva a sua mãe uma vez por semana. Se tiver que repreendê-lo novamente por causa deste assunto, fá-lo-ei comparecer perante uma corte marcial.
Wilkins levantou-se, entregou a carta ao presidente e ficou aguardando ordens. Finalmente Lincoln se voltou para ele.
_ Meu filho, disse-lhe amavelmente, não há no mundo qualidade melhor do que a gratidão. Não pode um homem encerrar em seu coração nada mais desagradável e degradante do que a ingratidão. Mesmo o cão aprecia a bondade, e nunca esquece a palavra amável ou o osso que se lhe atira.
Lincoln fez novamente uma pausa e, em seguida, disse: Pode ir embora, meu filho.
É desnecessário dizer que o médico reconheceu a justiça das severas palavras do presidente e em seguida começou a corrigir para com sua mãe o aparente esquecimento em que a tivera antes.
publicado na Revista Serviço Rosacruz, abril,1967