Original de Esme Swajnson
O portão seguinte estava
parado – não havia movimento. Parecia sólido e pesado; seu ornamento central
era uma montanha;, com um pequeno edifício no ponto mais elevado. Os pilares
eram entalhados com cabeças de bode na parte superior e nas bases tinham uma
guarnição de rabos de peixes.
Rex não sabia como
poderiam entrar, pois não viram campainha nem nada em que bater, nem mesmo um
pau para bater no portão.
Subitamente Zendah disse:
“Existe um pequeno buraco de fechadura lá em cima do portão, Rex, mas não sei
como poderemos alcançá-lo; e mesmo que chegássemos lá, não temos chave.
Todavia, você pode subir em meus ombros para ver se chega até a fechadura.”
Rex subiu-lhe aos ombros,
mas mesmo assim não atingiu a fechadura. Pulou então para o chão e os meninos
se entreolharam, desanimados.
-“Isto é uma maçada”,
disse Rex olhando para o portão. “Veja aquelas letras, Zendah. Eu não as havia
visto antes.”
Ficaram surpresas, ao
verem escrito no portão as seguintes palavras: “Senão conseguir da primeira
vez, tente e tente novamente.”
De súbito Zendah percebeu
uma enorme pedra próxima do portão. Havia um traço luminoso por baixo dela.
Disse Zendah: “Tentemos levantar esta pedra e talvez encontremos a solução.”
Ambos empurraram a pesada pedra; no fim de alguns minutos a pedra foi afastada
e em baixo dela encontraram uma caixa de pedra branca. Dentro dela havia uma
chave feita de metal escuro que parecia pesado. De fato era muito pesado, pois,
juntos, com dificuldade conseguiram levantá-la. Zendah segurou a chave com
ambas as mãos e ao fazê-lo Rex gritou: “Zendah, Zendah você está ficando cada
vez mais alta!” Ele viu Zendah crescer como um pé de feijão e em poucos minutos
estava tão alta que conseguiu alcançar a fechadura e pode colocar a chave nela.
Ao terminar de fazer isso, Zendah voltou instantaneamente ao seu tamanho
normal. Então os dois ouviram uma voz que dizia:
_” Quem encontrou o
segredo da entrada da Terra do Bode?”
Os meninos responderam:
“Rex e Zendah”.
_”Deem a senha!”
_”Perseverança,
responderam os meninos”.
_”Entrem, Rex e Zendah,
pela virtude da perseverança”
Aos poucos, lentamente, o
portão se abriu e um vento frio fez com que tremessem ao passar pelo umbral.
Que visão tiveram! Filas
e filas de montanhas, uma cobertas de neve, outras de pedras cinzentas. O Sol
acabava de surgir e enquanto olhavam as montanhas, elas foram mudando do
cinzento para lindas cores azul e púrpura e à proporção que o sol fazia-se mais
alto no céu, iam-se tornando em cor de rosa e alaranjado, até ficarem com a cor
que tinham durante o inverno as montanhas onde viviam os meninos.
_”Está frio aqui”, disse
Zendah batendo com os pés, “mas não gosto de subir montanhas”.
Voltaram-se ao ouvir
passos e viram uma mulher idosa, com cabelos grisalhos, que se dirigia para
eles.
Segurava um bastão e
vestia roupa de alpinista, feita de material esverdeado, amarrada com um cinto
de couro castanho escuro;
_”Vocês vão ver que esta
terra é difícil”, disse ela, balançando a cabeça gravemente para as crianças,
“mas eu lhes darei a força dos pés de bode e vocês poderão subir a montanha”.
Assim falando tocou-lhes
os pés com seu bastão e, para seu espanto os meninos verificaram que podiam
subir as encostas das montanhas com toda a facilidade.
_”Que teria acontecido,
se não tocasse nossos pés com o seu bastão?” perguntou Zendah.
_”Seus joelhos se
dobrariam, vocês cairiam e nunca teriam podido atingir o cume da montanha”,
disse a velha.
Subiram, subiram,
atravessando grandes bosques de faia, aqui e ali, homens cortavam alguma,
preparando-as para serem trabalhadas lá em baixo, no sopé da montanha.
Próximo ao cume
encontraram um lindo jardim com fileiras de álamos e de teixos, tão bem
arrumados que Rex imaginou ver soldados em marcha. No centro, havia um palácio
negro, que brilhava como mármore polido, mas disseram-lhe que era feito de
azeviche.
No palácio de azeviche
encontraram o Rei Saturno que sorriu quando eles entraram e lhes disse que era
nessa casa que ele era encontrado mais frequentemente.
-“Receio que vocês achem esta Terra do Capricórnio apenas interessante, e virando-se para um jovem que estava sentado ao seu lado, cujos cabelos eram semelhantes ao de Rex, acrescentou:
-“ Vocês conhecerão todas
as nossas maravilhas por meu filho Marte, que é jovem e ficará contente por ter
um motivo para fazer outra
coisa que não seja permanecer sentado, quieto, diante de mim o dia todo !”
Marte ergueu-se com um
sorriso e saíram, lançando um olhar, à medida que passavam nos diversos cômodos
do palácio onde viviam homens e mulheres falando, falando tanto que vocês
pensariam que deviam estar cansados de tanto tagarelar.
Em outra dependência
viram pessoas cercadas de livros e rolos de papel com centenas de selos verdes
e vermelhos pendentes. Havia livros nas prateleiras, livros nas mesas, livros
no chão aos montes; eram tantos livros que quase não se viam as pessoas!.
_”Alguns destes estão
estudando tudo sobre leis, de modo a poderem orientar seus reis a dirigirem
seus paízes”, explicou Marte”, e outros escrevem livros para serem armazenados
nas livrarias e bibliotecas para que muitas pessoas possam lê-los.
Os meninos acharam que
isso estava enfadonho e então Marte levou-os fora do palácio onde viram
centenas de bodes e cabras, grandes e pequenos, cinzentos, brancos e malhados,
correndo montanhas abaixo, nunca escorregando, nem caindo quando saltavam de um
penhasco para outro.
_”Não existem outros
animais aqui?” perguntou Zendah.
Marte mostrou-lhe uma
lagoa escura, próxima ao sopé de uma das montanhas. Lá os meninos viram
centenas de crocodilos.
_”Não gosto deles, nem do
seu cheiro”, gritou Zendah.
Marte riu. “feche os
olhos”, ordenou, e disse uma palavra mágica.
_”Pode abri-los agora”.
Quando Zendah abriu os
olhos, todos os crocodilos haviam virado cobras que trepavam nas margens da
lagoa tão depressa quanto podiam.
Pouco depois chegaram a
uma fenda na montanha, e engatinhando por ela chegaram a uma espécie de caverna
semelhante a um pequeno quarto, com cadeiras de um lado. Depois de terem se
sentado, o quarto tornou-se subitamente escuro e zás – bum! A respiração deles
quase parou e eles viram uma luz mortiça.
_”Fiquem quietos, bem
quietos se quiserem ver os gnomos trabalhando”, disse Marte, quando chegaram a
uma estreita passagem dentro da gruta. Estavam na beira de um rochedo olhando
para uma caverna em baixo
Lá centenas de pequeninos
homens andavam de um lado para outro. Alguns olhavam para uns caldeirões nos
quais ferviam metais. Outros empurravam pequenos carros cheios de metal fundido
e os meninos puderam ver alguns carros derramando o metal quente nas frestas
das rochas.
_”Que fazem eles?”
perguntou Rex.
“Estão pondo chumbo nos
veios das rochas para que ele possa escorrer até a Terra e os homens possam
encontrar minas de chumbo, se cavarem bem fundo. Os metais tem de ser postos na
terra pelos gnomos antes que os homens os possam achar. Agora vamos ver o que
fazem eles com as árvores que vocês viram sendo abatidas nos declives da
montanha”.
Passaram a um grande
edifício onde serras circulares cortavam os troncos das árvores, reduzindo-as
em tábuas finas e lisas. Algumas eram polidas até ficarem como espelhos; os
meninos podiam ver seus rostos refletidos nelas. Por toda a parte, todas as coisas
eram feitas de madeira: mesas, brinquedos, botes e caixas. Num canto, um homem
arrumava pequenos triângulos e quadrados diminutos, coloridos, formando um
desenho parecido com o de um tapete.
“Como demora fazer isso!”
suspirou Zendah, lembrando-se que não gostava de ficar sentada, quietinha por
muito tempo.
_”Ele vem fazendo isso a
84 anos”, replicou Marte. “Como você vê é preciso ter muita paciência para
fazer isso, e ter paciência é uma das coisas que se aprende aqui”.
As crianças começavam a
sentir-se cansadas com a subida porque o poder do bastão mágico começava a
diminuir, e por isso Marte carregou-os para cima de uma montanha muito alta
cujo cume parecia estar acima das nuvens.
Afinal chegaram diante da
porta de um edifício de cristal que tinha cinco lados, como uma estrela. Sobre
a porta liam-se as seguintes palavras:
“O SILÊNCIO É DE OURO”
No pórtico da entrada,
próximo de uma janela que subia do chão até o teto, estava sentado um homem. A
janela tinha uma abertura na parte superior por onde um telescópio apontava
para o céu estrelado. O homem estava no meio de uma porção de mesas cobertas com
livros e papéis desenhados com círculos e números fantásticos. Como Marte
levasse as crianças perto dele, levantou o olhar dos cálculos que fazia.
_”Datas de nascimentos,
por favor” foi tudo o que disse.
_”27 de março e 26 de
novembro, responderam Rex e Zendah.
O homem riu-se e disse:
_”Por favor, um de cada
vez “.
Escreveu seus nomes em um
grande livro que estava ao seu lado. Querendo saber por que ele queria as datas
de seus nascimentos, Rex e Zendah ficaram olhando para ele, mas o homem
mergulhou novamente em seus cálculos e os meninos viram então que Marte
esperava por eles à porta.
Deixando esta antecâmara,
chegaram à entrada do “hall” principal.
Marte disse-lhes para que
o seguissem devagar e mansamente. No centro, pendia uma lâmpada suspensa ao
teto por uma corrente dourada que brilhava quando balançava com o vento. Em
baixo da lâmpada estava uma mesa em cujas pernas havia serpentes entalhadas. Sobre
a mesa havia uma almofada de cor púrpura, em cima da qual podia se ver um livro
encadernado em veludo branco. Várias correntes e cadeados estavam amarrando o
livro e sobre ele lia-se em letras de ouro:
“SABER É PODER”
Um anjo verde estava
ajoelhado em cada canto, enquanto um outro permanecia atrás da lâmpada,
vigiando para que o livro nunca saísse dali.
-“Este é o livro no qual
toda a sabedoria do mundo está escrita, em todas as línguas”, disse Marte.
“Está fechado com sete cadeados e a pequena chave que vocês acharam na porta da
entrada desta terra, abre um deles, mas enquanto vocês não visitarem todas as
terras do Zodíaco não serão capazes de ler nenhuma de suas páginas. A lâmpada é
como a lâmpada de Aladim; pode dar a vocês tudo o que desejarem. Antes de
partirem, o Pai Tempo dará a vocês uma cópia dessa lâmpada e ensinará vocês a
usá-la.”
Marte desceu com eles
pelo lado da montanha até o Palácio de Azeviche. O Pai Tempo sorriu quando os
viu. Lendo seus pensamentos disse-lhes:
-“Então vocês querem ler
o Livro da sabedoria, hein, meninos?
Algum dia vocês o farão.
Tome Zendah, dou-lhe um exemplar da lâmpada; você deve descobrir onde esfregar
e quantas vezes; depois use essa descoberta juntamente com a senha desta terra,
isto é Perseverança. Você Rex, pode usar esta estrela de cinco pontas feita de
jade, para lembrar-se desta terra.”
Marte conduziu-os até as
portas do palácio. Despediram-se e os meninos correram montanha abaixo chegando
à porta de entrada dessa terra mais depressa do que esperavam. Pudera! É muito
mais fácil descer uma montanha do que subir por ela! Eles não sabiam ao certo o
que pensar da Terra do Capricórnio porque, como disse Zendah, lá as coisas eram
muito confusas, e também lá fazia muito frio.
As Aventuras de Rex e Zenda no Zodíaco – tradução pela Fraternidade Rosacruz – Sede Central do Brasil publicado na revista Serviço Rosacruz de 1980 - 81. O original de Esme Swajnson. Publicado na revista Rays from the Rose Cross nos anos 1960-61 e novamente nos anos 1996-97.
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